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Este blog pertence ao Tradicionalista Sérgio Spier, vulgo Pepecão (nome artístico) para os correligionários da tradição que me conheceram nos anos 70, 80. Posto discussões da Política e do Tradicionalismo vigente além de temas didáticos para pesquisas culturais.


20 de abr. de 2010

Ideologia da Revolução Farroupilha

Com a abdicação de D.Pedro I, a 7 de abril de 1831, começava no Brasil um dos momentos mais conturbados de sua História Política – o Período Regencial. Durante esse período por diversas vezes e diferentes regiões esteve ameaçada a integridade territorial brasileira. A partir das disputas pelo poder estouraram varias rebeliões em algumas províncias, tendo como pano de fundo o Federalismo.

O Movimento Farroupilha, no Rio Grande do Sul, foi um dos muitos movimentos liberais que sacudiram a Regência na 1ª metade do século XIX. Maior dos conflitos internos enfrentados pelo Império brasileiro no período, caracterizou-se como a mais grave e duradoura das revoltas regenciais.

Os ideais liberais foram responsáveis por os movimentos regionais em todo Brasil deflagrados entre 1835 e 1848 e que contribuíram para que o pensamento conservador, se clareasse perante a necessidade de conter a revolução através da adoção de medidas regressistas, centralizadoras.

A Revolução Farroupilha, também conhecida como Guerra dos Farrapos, é uma revolta liberal, e suas correntes políticas dividem-se em moderadas, Chimangos, que desejavam a modificação do regime através das leis, e a exaltada, Farroupilha, que apontava como solução à revolução.

Um fato importante que motivou a insurreição, foi a desigual distribuição de renda, que era feita pelo Governo Imperial, criando uma distorção, já que mesmo com uma produção elevada, o que lhe cabia não era compatível. Os rebeldes afirmavam que parte das dificuldades do Rio Grande do Sul decorria do fato de ele ter de sustentar outras províncias.

A motivação básica para o enfraquecimento das relações da província com o centro e que vai ter como fim à revolta armada foi o sentido generalizado, por parte da oligarquia guaúcha, da opressão que o império realizava sobre a província.

O contexto local que leva a revolta tem dois traços formadores que lhes dão um caráter especifico: o componente militar fronteiriço e o peso quase absoluto da pecuária na economia da região. Padrão de comportamento autoritário para a elite dirigente e um contorno militarizado para a sociedade sulina.

Os lideres revolucionários – elite – fizeram a revolução porque queriam o poder de decisão através do sistema Federativo. Defendiam o federalismo devido à questão da responsabilidade parlamentar, desigual no Império Brasileiro.

A ideologia de uma sociedade é a ideologia de sua elite dominante, e sua função é adequar, justificar e dar explicações sobre a legitimidade de uma determinada situação. Todo grupo social tem uma concepção de mundo, mas, sob determinadas condições toma emprestada de um outro grupo social, adotando-a como sua.

O Liberalismo expressão do pensamento burguês do século XIX, tem no plano das idéias a afirmação da liberdade política e econômica e a igualdade entre os homens, em termos de oportunidades efetivas, no plano do concreto, o que se vê é a dominação do capital.

Os liberais sulistas, recolheram da ideologia importada os elementos condizentes com suas reivindicações mais imediatas, ou seja, o liberalismo econômico tinha o significado básico de romper monopólios, e estabelecer o livre comercio, enquanto que sua contrapartida política se orientava para a entrega do poder de direito aos seus representantes de fato na sociedade brasileira: os proprietários de escravos e terras – elite.

Os chefes farrapos, saídos das classes dos estancieiros da fronteira queriam reforçar as instituições da tradicional sociedade rio-grandense. A Revolução Farroupilha, com a liderança dos estancieiros, assemelha-se mais a uma revolta, na qual uma parte da classe dominante requer maior autonomia política e econômica.

Utilizando as idéias de alguns dos pensadores Iluministas para justificar a revolta, os rebeldes gaúchos extraíram de Locke, o principio da Legitimidade para o enfrentamento de um poder que ameaçava a propriedade e a soberania rio-grandense, introduzindo a noção de limite à soberania no Estado, quando admite que toda vez que o governo ameaçasse a propriedade dos cidadãos verificar-se-ia uma violação do contrato social, legitimando com isso o direito a revolução.

De Montesquieu, utilizaram a idéia da divisão de poderes, baseadas num sistema de freios e contrapassos que deveria estabelecer uma união harmônica, concorrendo para a estabilidade do corpo social. Essa questão se exprimiria, para os rebeldes, na adoção do governo constitucional representativo.

E de Rousseau as idéias das liberdades ou direitos individuais do cidadão, na idéia de que o homem é bom em estado de natureza e de que a sociedade o corrompe justifica o direito dos homens mudarem em desacordo com o principio da liberdade individual.

A influencia das idéias liberais eram tão fortes, que Flores, menciona a transcrição de textos de Locke. Montesquieu e Rousseau em jornais farroupilhas da época. Dentre os princípios liberais que integravam o ideário farroupilha, e que estão salientados em um Manifesto lançado em 1838, são a liberdade de expressão – opinião publica, denunciavam a subversão e utilização da imprensa por parte do governo, para difamar os farrapos, a liberdade e garantias individuais.

O liberalismo no ideário farroupilha era a justificação para a rebelião contra o poder que tanto ameaçava a propriedade quanto à soberania rio-grandense. A revolução era pois,um recurso para ser usado quando a lei fosse violada, quando a liberdade estivesse ameaçada. A revolução também era fruto do desrespeito do governo imperial aos princípios liberais.

O liberalismo farroupilha e seu republicanismo não podem ser confundidos com um liberalismo radical. Os farrapos não eram revolucionários sociais empenhados em reestruturar a sociedade. Estavam familiarizados com o sistema republicano e federativo por o contato com os países vizinhos.

O movimento ocorreu nos limites da classe dominante pecuarista, latifundiária e escravocrata. A sua demonstração de força era dada pela capacidade de resistir ao centro, e a justificativa da rebelião passava pelo endosso seletivo das idéias liberais da época, adaptada aos interesses locais.

O objetivo principal da Revolução Farroupilha foi à luta pelos princípios liberais contra o autoritarismo e centralização do governo, que paradoxalmente existia também na Republica Rio-grandense.

Texto escrito por Patrícia Barboza da Silva aluna do curso de Historia Licenciatura da Fundação Universidade Federal do Rio Grande.

Referencias Bibliográfica:


ALVES, Francisco das Neves. O Manifesto de 1838: a exposição dos motivos Farroupilhas. In: ALVES, Francisco das Neves & TORRES, Luis Henrique (org): Temas da Historia do Rio Grande do Sul. Rio Grande, Editora da Fundação Universidade do Rio Grande, 1994.
FLORES, Moacyr. Historia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Nova Dimensão, 1996, 5ª ed.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Farrapos, liberalismo e ideologia. In: DACANAL, José Hildebrando (org): A Revolução Farroupilha: História e Interpretação. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1997, 2ª ed.

Brasil Regional - História do Brasil - Brasil Escola

Antônio de Souza Neto - farroupilhas : Ideais, Cidadania e Revolução

"Aqui descansam os restos mortais do Brigadeiro Antônio de Souza Neto, falecido na cidade de Corrientes em 1.0 de julho de 1866". É o que se lê na lápide do mausoléu do proclamador da República Rio-Grandense, no cemitério de Bagé, para onde foram transladados e definitivamente guardados a 29 de dezembro de 1966.

Nascido em Povo Nôvo, distrito do Município do Rio Grande, a 11 de fevereiro de 1801, provinha de troncos açorianos e paulistas. Seu pai, o estancieiro José de Souza Neto, nascido no Estreito em 1764, era filho de açorianos - Francisco de Souza Soares e dona Ana Alexandra Fernandes; sua mãe, dona Teotônia Bueno da Fonseca, natural de Vacaria, era filha de paulistas descendentes de bandeirantes - Salvador Bueno e dona Inácia Antônia Bueno.

Mas foi em Bagé que Antônio de Souza Neto desenvolveu a maior parte de sua enorme atividade de guerreiro defensor da Liberdade, da República, da dignidade do Brasil Império que êle profundamente amava como sua Pátria, mas detestava como monarquia. E por isso, feita a paz de Poncho Verde a l de março de 1845, que pos fim à República Rio-grandense por êle proclamada a 11 de setembro de 1836, destinada a unir-se a todo o Brasil republicano, concordou com os chefes da República que findava para a pacificação do Rio Grande, mas se retirou para Corrientes, República Argentina, exilado voluntário, mas sempre atento às atividades político-sociais do Brasil.

Estancieiro no Uruguai, com seus campos talados e vazios que tudo lhe levara a Revolução Farroupilha a que se dedicara de corpo e alma - para aí se transportou após alguns anos de repouso em Corrientes. E, nas margens do Queguaí, ao norte de Paissandu, tornou-se, em breve, por sua capacidade de trabalho e inteligência, adiantado estancieiro.

Mas jamais abandonou sua terra natal e seu povo. Sempre de olhos atentos, de quando em quando visitava a sua Bagé dos Campos do Seival, onde proclamara a República Rio-Grandense, tomando conhecimento direto dos acontecimentos. E daí saiu, em 1851, com sua cavalaria Brigada de Voluntários Rio-Grandenses - que organizara à sua custa inteiramente, para os campos da luta contra a ditadura de Rosas, o que lhe valeu a promoção a Brigadeiro Honorário do Exército Brasileiro, e a transformação de sua Brigada de Voluntários Gaúchos, em Brigada de Cavalaria Ligeira. Vencido o ditador, voltou à sua estância em Queguaí, para novamente regressar ao Rio Grande do Sul, em 1864, como representante dos estancieiros brasileiros no Uruguai - estancieiros residentes aí -, a fim de apresentar ao govêrno imperial as q ueixas contra assassínios e roubos ali praticados contra êle e seus concidadãos.

Aliás, já em 1859 havia reclamado, violentamente declarando que, se o govêrno imperial não tomasse providências, êle, Neto, organizaria sua fôrça e assumiria a responsabilidade de invadir o Uruguai e vingar seus concidadãos. Regularizada a situação, com contemporarizações, e algumas medidas preventivas, em breve tudo voltou ao que era dantes e, novamente agredidos com violência, tornou ao Rio Grande do Sul, mas desta vez com podêres maiores. E, com êsses podêres, foi ao Rio de Janeiro e aí, na côrte, onde foi acolhido com bastante afeto, depôs as queixas perante S. M. D. Pedro II. Pouco mais tarde, à frente de sua Brigada de Cavalaria Ligeira, fazendo a vanguarda do Exército, sob o comando do Marechal João Propicio Menna Barreto, invadia o Estado Oriental do Uruguai, - em auxílio do Presidente eleito da República, Don Venâncio Flores, tomando parte no assalto às trincheiras de Paissandu, onde também se sagrou, no ataque por água, o imperial marinheiro Marcílio Dias, recebendo seu batismo de fogo.

Dessa campanha somente regressou a 20 de fevereiro de 1865 para trabalhar com seus patrícios contra o invasor paraguaio. Sua cavalaria ligeira, nos rencontros entre São Borja e Uruguaiana, até a rendição a 18 de setembro de 1865, ostentou, sempre, ao lado da imperial bandeira do Brasil, o pavilhão tricolor da República Rio-Grandense. Aliás, nessa sua fôrça eram numerosos os oficiais e soldados que o haviam acompanhado durante a Revolução Farroupilha.

Em seguida, incorporada a sua fôrça ao Exército do General Manoel Luís Osório, comandante em chefe das tropas em ação no Rio Grande do Sul, Neto transpôs, logo após a rendição de Uruguaiana, o rio Uruguai, marchando por terra até o território paraguaio. E aí, batendo-se com excepcional bravura em Estero Bellaco a 2 de maio de 1866, e depois em Tuiuti a 24 do mesmo mês e ano, foi gravemente ferido. Transportado para o Hospital Militar de Corrientes, faleceu a 1 de julho do mesmo ano, naquele nosocômio.

Antônio de Souza Neto, tropeiro de profissão, soldado por imposição da Pátria, - primeiro a Pátria Rio-Grandense e depois a grande Pátria Brasileira, - passou sua existência a serviço da liberdade e da justiça, para o bem do Brasil e do Rio Grande do Sul.

Iniciando sua vida de estudante em Pelotas, com seus irmãos Rafael e Domingos, foi em seguida para Bagé, onde se dedicou à criação de gado. Tropeiro, percorria o Rio Grande e o Estado Oriental, sendo por seu caráter, por sua dignidade e apresentação pessoal, querido e respeitado por todos. Afeiçoado às carreiras, possuía o melhor plantel de cavalos de corridas em cancha reta.

Como todo o rio-grandense que se prezava, naqueles tempos, também Antônio de Souza Neto se apresentou e foi soldado. Aos 28 anos de idade era capitão de segunda linha. E antes de completar 35 era coronel de legião, em Bagé, onde dia a dia aumentava de prestígio por seu valor, capacidade e inteligência, a par de um coração boníssimo, sempre pronto a proteger o fraco contra as injustiças, e a justiça contra as violências.

o movimento farroupilha, organizado e dirigido por Bento Gonçalves da Silva, encontrou Antônio de Souza Neto já preparado para a defesa dos direitos e liberdades do Rio Grande. E quando rebentou a Revolução, a 20 de setembro de 1835, o valoroso coronel comandante de legião da Guarda Nacional de Bagé de imediato organizou, auxiliado por José Neto, Pedro Marques e Ismael Soares da Silva, o corpo de cavalaria que um ano mais tarde se destacaria nos Campos do Seival, derrotando o grande cabo de guerra imperial General João da Silva Tavares e proclamando a República Rio-Grandense, livre e independente, para livrar o povo rio-grandense "a não sofrer por mais tempo a prepotência de um govêrno tirano, arbitrário e cruel como o atual".

Promovido a General da República Rio-Grandense, o grande amigo e admirador de Bento Gonçalves da Silva pouquíssimas vêzes foi vencido durante aquêles quase dez anos de lutas constantes de um país inteiro, bem armado e municiado, contra um pugilo de homens livres do Rio Grande do Sul que, sem jamais tirarem os olhos da grande Pátria, preferiam a morte a um acôrdo desairoso.

E foi ainda Antônio de Souza Neto que, na primeira tentativa de pacificação, em novembro-dezembro de 1840, proposta por Francisco Alvares Machado em nome do govêrno imperial, respondeu à consulta de Bento Gonçalves: - "Enquanto tivermos mil piratinenses e dois mil cavalos, a resposta será esta", dissera, pondo a mão direita nos copos de sua espada, porque as propostas não haviam sido feitas com muita lisura e estavam muito aquém da dignidade daqueles heróis que se batiam contra o Império, sacrificando tudo por um ideal: saúde, família, bem estar, fortuna e propriedades.

O semanário ilustrado de Pôrto Alegre, 'Sentinela do Sul', n.' 7, de 18 de agôsto de 1867, publicando uma bela litografia de I. Weingaertner, retrato do Brigadeiro Antônio de Souza Neto, assim termina seu comentário biográfico do proclamador da República RioGrandense:

- "Faleceu, pois, o General Neto no cumprimento do mais sagrado dos deveres; e tanto mais apreciável é a sua dedicação quanto é certo que a sua extraordinária riqueza e o prestígio de que gozava o tornavam de tal maneira independente, que tudo quanto fêz foi inteiramente espontâneo e somente inspirado pelo amor à Pátria".

Realmente, Souza Neto, que se iniciara na vida pública como tropeiro, depois de ter pequena fortuna, entregou-se inteiramente aos ideais políticos consagrados na República Rio-Grandense. Depois, reiniciando e reconstituindo sua fortuna, residindo e com propriedade enorme fora da Pátria, nada mais precisava fazer, e tanto assim que, apesar de pequenas perseguições a agregados seus, fôra sempre respeitado e temido no Uruguai, abalou-se, a bem da justiça, de sua estância e novamente, de armas em punho, defendeu os direitos do Brasil, primeiro, contra Rosas, depois contra Aguirre e, finalmente, contra Solano López, do Paraguai.

E aí faleceu, vitimado em combate, no imortal combate de Tuiuti, onde outro gaúcho de fibra, Osório, brilhou mostrando ao mundo o valor, a inteireza e a nobreza do povo sul-rio-grandense.

Antônio de Souza Neto, como Manoel Luís Osório, são autênticos símbolos de um povo e legítimos guias da mais briosa cavalaria do mundo: a Cavalaria do Rio Grande do Sul, - hoje colocada à margem pela motorização, pelos cavalos-vapor... menos belos, menos brilhantes, mas mais temerosos.

O Tropeirismo

O Tropeirismo (condução de animais soltos ou de mercadorias em lombos de animais arriados) foi um ciclo da maior importância para a economia e a fixação do homem no interior do Brasil, quiçá tão importante quanto foram os ciclos do café, da cana-de-açúcar, do ouro, da borracha e outros.
Foram as Reduções Jesuíticas que provocaram as primeiras atividades tropeiras no Sul da América. Os padres incentivaram os primeiros transportes em lombos de mulas entre os vários povoados missioneiros. E foram também os missioneiros os descobridores dos passos de travessia dos rios, principal obstáculo a essa atividade. Se devem aos missioneiros a descoberta, por exemplo, do passos de Yapeyú, Mbororé e outros mais nos rios Uruguai, Iguaçu e outros, que serviram mais tarde aos tropeiros de origem lusa.
De 1860 em diante, quando os lagunenses passaram a penetrar nos territórios ocupados pelos missioneiros no Rio Grande do Sul, o gado abundantemente aí existente passou a ser trazido para Laguna, de onde depois de abatido, a parte não consumida localmente era enviada para São Vicente e Lisboa, em forma de charque. Por esta época, a Colônia do Santíssimo Sacramento passou a ocupar espaço como centro de comércio, notadamente de contrabando, em reação ao rigor da coroa, da qual dependiam todas as atividades mercantis.

A história registra os seguintes nomes como principais tropeiros:

Francisco de Souza Faria (1717) - o pioneiro
Cristóvão Pereira de Abreu (1735) - o patriarca
João José de Barros (1808) - o paulista
José Pacheco de Carvalho (sem data) - da Lapa
Joaquim José de Almeida Taques (sem data) - Castro
José Joaquim de Andrade (sem data) - de Sorocaba
Dr. Olivério Pillar (1875) - de Cruz Alta
Joaquim Antonio Pedroso (1856) - de Sorocaba
Maneco Pinto, José Antonio Rodrigues, Felipe Alves Machado, João da Silva e seu pai Potiguara do Prado (sem data) - todos de Carazinho
Manoel Gomes de Moraes ou Maneco Biriva (sem data) - de Júlio de Castilhos
João Ferreira Amado (sem data) - de Palmeira das Missões
Augusto Loureiro Lima, vulgo Duque (sem data) - de Porto Alegre

AS ESTÂNCIAS

"Estância" quer dizer "lugar de estar", como as estâncias hidrominerais, tão populares, hoje. Mas é também o lugar onde se cria gado para vender, ou seja, trata-se de uma empresa comercial.
Foi o padre jesuíta quem criou a estância gaúcha. Preocupado com a crise de fome que assolava os povos, em 1634 o Padre Cristóbal de Mendonza trouxe mil cabeças vacuns desde a Argentina, gado esse que foi distribuído em "estâncias" para o abastecimento dos povos. Alguns ficavam distantes das Missões, como a de Santa Tecla, hoje no município de Bagé. Para cuidar das estâncias, os jesuítas treinaram a cavalo índios "vaqueros", que logo iriam se somar aquele denso caldo humano do qual vai brotar o Gaúcho.
Expulsos os jesuítas, muito gado ficou por aqui e o branco - espanhol ou português - foi se adonando de tudo, organizando as suas próprias estâncias. E já registrando "marca" (que era enorme) e "sinal" (cortes específicos nas orelhas dos animais), como persiste até hoje.
Essas primeiras estâncias tinham como limites os meramente naturais - rios, montes, matos - mas cada um sabia o que era seu e até uma ninhada de tatus assinalados era respeitada escrupulosamente pelos vizinhos... Ademais, os jesuítas muitas vezes mandavam os índios escavar extensos valos, para delimitar áreas de campo, como os que existem ainda hoje na estância Guabijutujá, em Tupanciretã. Depois, com os escravos, vieram as cercas de pedra, existentes ainda hoje, que os serranos chamam de "taipa". Na metade do século XIX aparece a cerca de arame, fazendo a divisa de potreiros, invernadas e postos.
A estância gaúcha tradicional se compõe das Casas, onde mora o proprietário com sua família, em cujos cômodos gente estranha não põe os pés, a não ser a criadagem "de dentro". O galpão, ou galpões, é exclusividade da peonada, onde cada peão em o seu catre, tarimba ou cama (hoje em dia, beliche) e aonde sempre arde um fogo-de-chão para a roda do mate ou algum churrasquito meio galopeado, quem sabe até de charque. O galpão é um reduto masculino. Mulheres que nasceram e se criaram nas Casas da estância morrem de velhas sem conhecer o interior do galpão...
A Casa do Capataz é onde este vive com a família, a meio termo entre as Casas da estância e os galpões. As mangueiras, que podem ser de pedra, de arame, de tábua ou de varejão (troncos) e que incluem a mangueira grande, o curro (ou seringa), o tronco e os bretes, são os currais para encerrar o gado em determinados trabalhos. E, quase sempre, o banheiro, que é grande para o gado (vacuns) e pequeno para o rebanho (ovinos), onde se banham os animais com remédios contra a sarna, o carrapato, etc...
Junto as Casas, o potreiro da frente, quase sempre despovoado de animais. Atrás do galpão, o piquete, onde se soltam os animais de trabalho ou do "munício" (os que vão ser abatidos para o consumo da estância). Depois, as invernadas, quase todas com nome: Invernada da Tapera, do Coqueiro, do Cerro, doValo. Nessas invernadas se cuida do gado e numa delas está o parador do rodeio, ponto de reunião da animalada para trabalhos especiais, como aparte e coisas assim.
Longe das Casas, os postos, que só existem nas estâncias grandes. São o que o nome diz, cuidados por um Posteiro, que mora num rancho com a família. Junto aos matos, ou rio, vive algum Agregado, gente amiga do proprietário que obteve licença para erguer um rancho nos campos deste e tem alguma vaquinha de leite, uma hortinha, galinhas e porcos.
Hortas e lavouras não são comuns, ou fartas, na estância. O gaúcho sempre foi um comedor de carne. Planta, quando muito, alguma batata-doce, milho, abóbora e melancia. E só.
O pessoal da estância é o Patrão (e sua família), a gente das Casas (a criadagem, inclusive a cozinheira), o Capataz (e sua família), a peonada, os posteiros e agregados. De primeiro havia também o Maiodormo (administrador) e o Sota-Capataz (logo abaixo do capataz na hierarquia campeira).
Há trabalhadores especializados que a estância tem ou não. Muitas vezes suas tarefas são deferidas à peonada. São eles: carreteiro, domador, alambrador, tropeiro, peão caseiro ou peão patieiro, poceiro, compositor, carroceiro, lavoureiro, chacareiro, guasqueiro ou trançador. Quando não há alguém habilitado para esses trabalhos, na estância, chama-se alguém. O peão comum é o mensual e o contratado por jornada é o "peão por dia".

O Comportamento do Gaúcho

Paul Rivet (o importante antropólogo francês do século passado, fundador do Museu do Homem e estudioso dos povos da América Latina) levantou uma publicação de 1833, do jornal "Le National", Paris, com várias informações sobre o gaúcho, entre as quais: "Sua fala é enérgica, rápida e irregular; falam com fogosidade e grande facilidade; são imaginativos de espírito vivaz e apaixonados. Entre eles, quem sabe montar, laçar, atirar a boleadeira e manejar uma faca, está completo. ( ) são improvisadores, vivendo as expensas das inextinguíveis tropas de gado cuja carne é a base de sua alimentação. Muitos jamais comeram pão. Sua calma habitual cede lugar a um ardor indomável quando o fogo de suas paixões se acende, o que não é raro. O sentido de independência e amor a pátria, por exemplo se manifestaram mais de uma vez entre estas gentes grosseiras de alma heróica. Quando estoura uma guerra, este povo pastoril e pacífico se volve, de golpe, em um exército de terríveis guerreiros. Seu gosto pelo baile e música mostra igualmente, que sua sensibilidade é susceptível de grande exaltação. O Gaúcho é bravo por temperamento, mas sua bravura é animal(..). São capazes (..) dos mais formosos atos de devoção e sacrifício pessoal pela causa que abraçaram. Em suas brigas, em que o jogo é a causa mais habitual, estão sempre prontos a degolar-se. À menor provocação, sacam a faca e corre sangue".

Fonte: Portal do Gaúcho

Estrutura de um C.T.G. (Centro de tradições Gaúchas)

Ainda existe muita dúvida sobre a constituição organizacional da administração de um CTG, sempre lembrando que Patrão (Presidente) é o responsável por representar os anseios da sua Patronagem (diretoria) que por sua vez representa o seu quadro social:
O MTG - Movimento Tradicionalista Gaúcho define Centro de Tradição Gaúcha - CTG como uma sociedade civil, de fins não econômicos, com número ilimitado de sócios e estruturada, inclusive quanto ao simbolismo, de acordo com a forma adotada nas origens do movimento tradicionalista gaúcho, tendo como finalidade a aplicação, em seu âmbito associativo e na sua área de influência, dos princípios e objetivos, publicados na Carta de Princípios do Movimento Tradicionalista Gaúcho. De acordo com este simbolismo, a estrutura administrativa dos Centros de Tradições Gaúchas obedece à seguinte nomenclatura:

a. A Diretoria, o Conselho e os Departamentos são designados, respectivamente, por:
Patronagem
Conselho de Vaqueanos
Invernadas

b. Os membros da Patronagem (Diretoria) denominam-se:
Patrão (Presidente)
Capataz (Vice-Presidente)
Sota-Capataz (Secretário)
Agregado das Pilchas (Tesoureiro)
Agregado das Falas (Orador)

c. Os diretores das Invernadas são chamados Posteiros

d. Os conselheiros chamam-se Vaqueanos

e. Os sócios efetivos do sexo masculino são denominados Peões e do feminino Prendas.

f. As reuniões dos Centros de Tradições Gaúchas denominado-as simbolicamente de:

Charla - Reunião administrativa, especialmente da Patronagem, mas poderá ser aplicada também as do Conselho de Vaqueanos;
Chimarrão - Reunião de confraternização dos sócios entre si e destes com a Patronagem, que faz uma prestação de contas, informa e dá esclarecimento sobre o andamento das atividades do C.T.G.;
Chimarrão Festivo - Reunião na forma da alínea anterior, porém acrescida de atividades artístico-culturais, com a participação de convidados especiais ou abertas ao público;
Ronda - Vigília cívica levada a efeito diariamente, durante as comemorações da Semana Farroupilha, nos locais onde arde a Chama Crioula, complementada, geralmente, com apresentações artísticas e culturais;
Fandango - Baile animado com música regional gauchesca, em que somente participam das danças pessoas tipicamente trajadas com vestimenta gaúcha;
Lida - Reunião de trabalho que pode ser geral ou abranger determinados setores como Secretaria, Tesouraria ou Invernada.

g. As excursões oficiais dos Centros de Tradições Gaúchas são designadas por Tropeadas.

h. A pessoa encarregada de zelar pela conservação e manutenção das dependências do C.T.G. é o Peão Caseiro que, se for remunerado, não poderá fazer parte dos órgãos diretivos da entidade.

i. A Condição de Ajuste.

A Condição de Ajuste simboliza a contratação de um peão pelo patrão da estância e poderá ser adotada, nos Centros de Tradições Gaúchas, como modalidade de promover um sócio de contribuinte a efetivo.
A Condição de Ajuste se constituirá numa prova, que poderá ser prática ou teórica e versará sobre qualquer tema da cultura gauchesca, inclusive da área campeira, ficando a escolha a critério do candidato.
A Condição de Ajuste, conforme a natureza da prova escolhida pelo candidato, poderá ser apresentada em festa social ou campeira, em recinto fechado ou ao ar livre.

Sérgio Spier

14 de abr. de 2010

O blefe de Luiz Cláudio

Lembram quando o cantor Luiz Cláudio anuciou seu retorno às raízes campeiras e que voltaria a usar pilcha nos bailes? Não passou de promessa. Ao assumir como vocalista dos Garotos de Ouro, está mais maxixeiro que nunca .

Na época, César Oliveira, da dupla César Oliveira & Rogério Mello, apoiou publicamente o cantor. Mas agora, acredita que o "garoto de ouro" esteja condenado ao "fracasso total". Ao blog, César desejou sucesso a Luiz Cláudio, mas alfinetou:

-As pessoas preocupam-se em 'comprar' uma personalidade, no entanto, a maioria nasce com a sua, basta aprender a ser o que é, honrar, ter orgulho de suas origens , disse César.

O vocalista do grupo Garotos de Ouro afirmou não "crer" nas declarações de César e garantiu que não vai fracassar. E explicou o que prentende com a mudança de planos:

-Buscar o sustendo da minha família, dos meus filhos, proporcionar boa alimentação, boa escola, plano de saúde, enfim qualidade de vida e um futuro tranquilo. Esta estabilidade não iria ser realidade julgando o boicote por parte do segmento tradicionalista, falou.
Fonte.: Blog CLICRBS - Roda de Chimarrão

Lamentavelmente, Luiz Cláudio quer testar sua popularidade, a exemplo de Nei Lisboa, conseguiu dar um tiro no pé. Artista que avalia seu desempenho criando falsas intenções, acaba falando bobagem. Luiz Cláudio eram simpatizante e fez-se artista no meio tradicionalista, foi para outros lados (Liberdade de ir), anunciou seu retorno (Liberdade de vir), desistiu ("171"), Alegou boicote ( desculpa esfarrapada). - Luiz Cláudio, é melhor você ficar onde já estás, a sua familia agradece.

Sérgio Spier

9 de abr. de 2010

TEMÁTICA PARA DESFILE FARROUPILHA 2010

Desfile Temático de 2010, é sugerida, com possibilidades de modificação, abordando os seguintes temas:

1- a vida em família, o trabalho: lida de campo e charqueadas;

2- a religiosidade: casamentos e batizados;

3- as festas: fandangos, tava e o truco, além da chula;

4- os ideais farroupilhas: assembleia provincial e as lojas maçônicas;

5- os líderes e suas características;

6- os estrangeiros engajados;

7- as três capitais farroupilhas;

8- a proclamação da república: bandeira e hino;

9- os líderes e seus destinos após a Revolução.

6 de abr. de 2010

Porque não dançar Maxixe nos CTGs???

TCHÊ MUSIC
Com o advento dos "Tchê Music" instituiu-se uma nova forma de dançar embalada também por uma nova maneira de tocar principalmente entre a juventude. O jovem é contagiado pelas inovações, pois faz parte da natureza biológica da formação do ser (pois já passamos por isso). Toda a novidade é bem vinda, ela contribui para fortalecimento e enriquecimento das mudanças que ocorrem na sociedade naturalmente (tipo de cabelo, linguagem, estilo de roupas, cumprimentos, etc.), devemos estar em sintonia com estas mudanças. Os grupos musicais vem aperfeiçoando-se com novas tecnologias afim de garantir seu espaço em tão concorrido segmento. Toda a manifestação artística que contagia as massas, passa a representá-las ( maxixeiro é todo o adepto a dança do maxixe) e devem ser tocas nos ambientes que lhes convém sem nenhuma crítica, pois estão contribuindo para acervo cultural de um momento ou época a ser lembrada no futuro. Maxixe não é deturpação da musica gaúcha, é sim uma adaptação atendendo a demanda para novos estilos. Através do maxixe, muitos jovens tornaram-se simpatizantes do gauchismo, do chimarrão, da bombacha e outros adereços, até então só vistos em CTGs...

CENTRO DE TRADIÇÕES GAÚCHAS
São entidades associativas com o objetivo de cultuar e preservar as Tradições Gaúchas: estas sim devem resgatar, manter e criar o ambiente necessário ao cultivo das tradições (baseado nas pesquisas oficiais) tornando-se, como o nome já expressa, um CENTRO de difusão cultural para os usos e costumes das "cousas" do Rio Grande. Preservando a autenticidade e transportando para hoje os sentimentos glorificados pela história que passaram de geração em geração. Portanto os CTGs foram criados com os seguintes propósitos :
1 - Preservar a Cultura Gaúcha;
2 - Manter um quadro de associados simpatizantes pela causa;
3 - Colaborar com a comunidade ou o poder público para determinados assuntos;
4 - Representar a comunidade tradicionalista na Sociedade a qual está inserida ( existem as comunidade italianas, alemãs, hip-hop, afros, portuguesas, etc.);
Baseado nisso, com o sentido de preservação, os CTGs estão sim atualizados, e o fato de barrarem o maxixe em seus eventos sociais é estar atualizado para com o seus propósito e princípios.
O Maxixe entrou para dentro dos CTGs através das seguintes situações:
1 - Patronagem desfocada com o objetivo da entidade e do Movimento;
2 - Falta de manutenção do quadro de associados;
3 - Falta de criatividade e perda do foco administrativo;
4 - Falsa idéia de que salão lotado é lucro garantido (quantidade X qualidade);
5 - Nível Cultural nestas entidades e a preocupação com este fato é baixa;
6 - Patronagem com postura de rebeldia ao tradicional, sem entendimento da filosofia do Movimento;
7 - Patronagem pouco fundamentada nos seus conhecimentos de história, folclore, usos e costumes;
8 - Salvar o movimento financeiro ( motivo - item 3) prostituindo os princípios;
9 - Patronagens mercenárias, sem aplicação das receitas na cultura;
10- Falta de discernimento do que é uma vaneira tradicional e vaneira maxixada, ou seja, não conhecem a música regionalista do RGS.

Dado estes itens apresentados acima, julgo que os CTGs que contratam grupos para tocar músicas que não são foco dos seus objetivos culturais, comparo-os ao que se denota com frequência no interior do sertão pobre do nordeste brasileiro, pais que entregam suas filhas a desposarem com estranhos por um pouco de comida e alguns trocados a mais....

Sérgio Spier

A História do verdadeiro Maxixe

"O maxixe tem ciência,
ou pelo menos tem arte.
Para haver proficiência
basta mexer certa parte".

O maxixe foi a primeira dança urbana criada no Brasil. Surgiu nos forrós da Cidade Nova e nos cabarés da Lapa, Rio de Janeiro RJ, por volta de 1875. Conhecido como a “dança proibida”, era dançado em locais mal-vistos pela sociedade como as gafieiras da época que eram freqüentadas também por homens da sociedade, em busca de diversão com mulheres de classes sociais menos favorecidas. Considerado imoral aos bons costumes da época, além da forma supostamente sensual como seus movimentos eram executados foi perseguido pela Igreja, pela polícia, pelos educadores e chefes de família.

Sua entrada nos salões elegantes das principais capitais brasileiras foi terminantemente proibida até que, em 1914, Nair de Tefé, primeira dama do país, esposa do então presidente Hermes da Fonseca, iria escolher um maxixe, o “Gaúcho” ou “Corta-jaca“, de Chiquinha Gonzaga, para ser executado ao violão, nos jardins do Palácio do Catete, para escândalo de todo o país.

Mais tarde o maxixe estendeu-se aos clubes carnavalescos e aos palcos dos teatros de revista e enriqueceu-se com grande variedade de passos e figurações: parafuso, saca-rolha, balão, carrapeta, corta-capim, etc.

Como todas as criações desse nosso miscigenado povo, ele se formou musical e coreograficamente pela fusão e adaptação de elementos originados em várias partes. Segundo o que se apurou até agora, a polca européia lhe forneceu o movimento, a habanera cubana lhe deu o ritmo, a música popular afro-brasileira como o lundu e o batuque também concorreram e finalmente o jeitinho brasileiro de dançar e tocar completaram o trabalho.

Da mesma fonte nasceu a sua coreografia: a vivacidade da polca, os requebros da habanera e do lundu. O resultado foi uma dança sensual e muito desenvolta que acabou sendo até proibida. O maxixe nasceu primeiro como dança. Dançava-se à moda maxixe as polcas da época, as habaneras, etc. Só mais tarde nasceu a música maxixe ou o ritmo maxixe e as composições passaram a trazer impresso em suas partituras o nome de maxixe como gênero.

A época do seu aparecimento coincide com a popularização da schottisch (nosso xotis, aportuguesado) e da polca. Teria o maxixe nascido exatamente da descida da polca, dos pianos dos salões para a música dos choros, à base de flauta, violão e ofclide. Transformada a polca em maxixe, via lundu dançado e cantado, por meio de uma estilização musical realizada pelos músicos dos conjuntos de choro, a descoberta do novo gênero de dança chegou ao conhecimento das outras classes sociais do Rio de Janeiro quase ao mesmo tempo em que a sua criação. Os veículos de divulgação da nova dança, foram os bailes das sociedades carnavalescas e o teatro de revista.

Segundo uma versão de Villa-Lobos, o maxixe tomou esse nome de um indivíduo apelidado Maxixe que, num carnaval, na sociedade Estudantes de Heidelberg, dançou um lundu de uma maneira nova. Foi imitado e toda gente começou a dançar como o Maxixe. Jota Efegê no seu maravilhoso livro Maxixe – a dança excomungada, editado em 1974 não corrobora esta versão. Mas também não consegue explicar a origem do nome. Em suas exaustivas pesquisas ele encontrou uma variedade grande de explicações que dão à origem do maxixe, até hoje, um certo ar de mistério.

O que se apurou realmente é que há, pela primeira vez, referências a machicheiros e machicheiras (com ch) em jornais de 29 de novembro de 1880. Foi a Gazeta da Tarde, do Rio de Janeiro que publicou uma matéria paga na coluna Publicações a Pedido nos seguintes termos: “U.R. (traduzidas por Jota Efegê como União Recreativa) – Primeira Sociedade do Catete – Poucas machicheiras… grande ventania de orelhas na sala. Parati para os sócios em abundância. Capilé e maduro para as machicheiras não faltou, serviço este a capricho do Primeiro Orelhudo dos Seringas – O poeta das azeitonas.”

Diz Jota Efegê que em nenhum dos puffs, da época do carnaval, encontrados nos jornais de antes de 1880, aparece referência ao machiche ou mesmo machicheiros e machicheiras (com ch). Só em 1883, no Carnaval, a dança é anunciada numa quadrinha e sua prática incitada nas folganças de Momo:

Era um puff do Club dos Democráticos publicado no Jornal do Comércio de 4 de fevereiro de 1883, um domingo gordo de Carnaval. Segundo Jota Efegê esta foi a primeira referência comprovada ao nome maxixe, grafado com x e não com ch. Mas, até então, o maxixe era apenas dança. A música denominada maxixe só se firmou como tal depois da dança se haver caracterizado plenamente. Dançava-se maxixe, ou à moda maxixe, as polcas, as habaneras, a polca-lundu e posteriormente até o tango brasileiro, chamado de tanguinho. As primeiras partituras a apresentarem o nome maxixe como gênero de música, só apareceram por volta de 1902 a 1903.

Na Discografia Brasileira de 78 rpm o nome maxixe só aparece na etiqueta dos discos a partir da série Zon-O-Phone 1500 da Casa Edison ou, mais precisamente, nos discos 1585, 1597 e 1598. A divulgação do maxixe dança foi levada a efeito por um bailarino brasileiro chamado Antônio Lopes de Amorim Diniz, um dentista, que abandonou a profissão e em companhia das bailarinas Maria Lina, Gaby e Arlette Dorgère levou o maxixe para Paris fazendo enorme sucesso. Pela elegância dos seus passos, acabou recebendo o nome de Duque.

No Brasil sua divulgação maior se deu no teatro de revistas onde não foi menos aplaudido. Os programas das revistas traziam-no como tempero indispensável e os artistas dançavam-no com uma variedade admirável de nuanças. Segundo Marisa Lira, o maxixe foi o primeiro passo dado para a nacionalização da nossa música popular. Os compositores da Velha Guarda dedicaram ao povo “endiabrados maxixes que entonteceram à gente daquela época”.

Entre os cultores do gênero – como música e não como dança – destacam-se Irineu de Almeida, Sebastião Cyrino e Duque, Sinhô, Romeu Silva, Pixinguinha, Paulinho Sacramento, Freire Junior e Chiquinha Gonzaga – a grande maestrina brasileira, que compreendeu perfeitamente o ritmo desse gênero musical e, graças as várias facetas do seu talento, criou um maxixe para a peça “Forrobodó”, uma burleta de costumes cariocas de Carlos Bittencourt e Luiz Peixoto e que fez enorme sucesso na época.

Fontes: Memória do Rádio – Bauru-SP , Enciclopédia da Música Brasileira – Art Ed. Publifolha.