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Este blog pertence ao Tradicionalista Sérgio Spier, vulgo Pepecão (nome artístico) para os correligionários da tradição que me conheceram nos anos 70, 80. Posto discussões da Política e do Tradicionalismo vigente além de temas didáticos para pesquisas culturais.


26 de mar. de 2010

A história da capital dos gaúchos

Estamos na semana de Porto Alegre, que está completando 238 anos de história.

A cidade de Porto Alegre tem, como data oficial de sua fundação, a da criação da Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais, em 26 de março de 1772.
Mas o povoamento de Porto Alegre é anterior a essa data. A área foi ocupada por casais açorianos, trazidos para se instalarem na região das Missões, que estava sendo entregue ao governo português em troca da Colônia de Sacramento, nas margens do Rio da Prata. A troca havia sido acordada através do Tratado de Madri, de 1750.
A demarcação do território das Missões, entretanto, demorou a acontecer. Em 1752 o rei português mandou que Cristóvão Pereira de Abreu, com 200 homens, iniciasse a demarcação. Quando chegaram em Rio Grande — que então era a sede da Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul — foi determinado que oitenta deles ficassem nas proximidades de Viamão, construindo canoas que permitissem o transporte até as Missões, e que os demais explorassem a subida do rio.
Os casais açorianos se fixaram, aos poucos, nesse local, que passou a ser chamado de Porto de Viamão — primeira denominação de Porto Alegre. Durante vinte anos ficaram na área, sem receber as terras prometidas e vivendo de uma agricultura de subsistência. Levantaram casas de barro e aos poucos se estabeleceram em terras que pertenciam ao sesmeiro Jerônimo de Ornelas.
Em 1772, a povoação foi finalmente desligada da jurisdição eclesiástica de Viamão, por uma pastoral do bispo do Rio de Janeiro, oficializando-se, assim, a Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais. Essa denominação seria mudada em janeiro do ano seguinte, para Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre. Assim, a cidade nasceu antes do que se considera oficialmente, e resultou do fracasso da ocupação da região das Missões.
Ainda em julho de 1772, foram desapropriadas as terras em que a vila estava situada e se começou a marcação das primeiras ruas. Deu-se início à construção da igreja no Alto da Praia, atual praça Marechal Deodoro. Aos poucos, o lugarejo tomava feições de cidade. E, em 24 de julho de 1773, Porto Alegre passou a ser a capital da capitania, com a instalação oficial do governo de José Marcelino de Figueiredo.
A cidade iria evoluir rapidamente, sempre a partir de um pequeno núcleo que hoje constituí o seu centro. Em certos momentos, viveu episódios de tensão. Afinal, era a capital da capitania (depois província) mais meridional do Brasil, e que fazia fronteira com países com os quais houve diversos conflitos.
Mas o período mais prolongado de dificuldades da capital não foi devido a nenhum conflito externo, como a Guerra do Paraguai. Foi causado pela Revolução Farroupilha, que se iniciou com um enfrentamento realizado no dia 20 de setembro de 1835 na própria capital, nas proximidades da ponte da Azenha.
Com exceção dos primeiros dias, a capital gaúcha se manteria, durante os dez anos da revolução, nas mãos das tropas governistas. Mas era constantemente sitiada e os farrapos procuraram isolá-la ao máximo. A resistência a um dos vários cercos que sofreu nesse período é que lhe valeu o título, dado pelo Imperador, de "mui leal e valorosa".
Depois da Guerra dos Farrapos, a cidade retomou seu ritmo normal de desenvolvimento, permanecendo sempre no centro dos acontecimentos políticos e sociais do Estado e do país. Exemplos disto foram a ascensão de Getúlio Vargas, político gaúcho que se tornou um marco da história nacional, e o movimento da Legalidade, mantido pelo governo Brizola no início dos acontecimentos que conduziram ao Golpe Militar de 1964.
O Centro e a história da capital dos gaúchos
O Centro é a área de Porto Alegre que, por sua antigüidade, concentra a maior parte dos marcos históricos da Capital. Um passeio pelas suas ruas permite reconstruir a história de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul.
Na Praça Marechal Deodoro (Praça da Matriz), começou a história de Porto Alegre, com a sua primeira igreja. Ali também teve início a Revolução Farroupilha, graças ao exaltado pronunciamento feito por Bento Gonçalves na Assembléia Legislativa.
Pela Rua da Praia desfilaram as tropas gaúchas que participaram das maiores revoluções do país — como a Revolução de 30.
Na praça da Alfândega, o cais do porto marcava o ponto de contato do Estado com o resto do país e do mundo: até a década de vinte deste século, a navegação de cabotagem era o principal meio de transporte de cargas e passageiros. Na rua Professor Annes Dias, a Santa Casa de Misericórdia é um marco de quase dois séculos da medicina no Estado.
Essas histórias — e as estórias dessa história — estão traduzidas nos diversos edifícios do Centro. Há um precioso patrimônio arquitetônico a ser preservado. E que, por sua vez, é muito pouco conhecido pelos próprios moradores da cidade.
Na fachada da Biblioteca Pública há um raríssimo calendário positivista. E, no seu interior, salas cujas decorações homenageiam culturas tão diversas como a egípcia e a mourisca.
No cimo do Paço Municipal (a prefeitura velha), uma estátua da Justiça contempla os porto-alegrenses. Essa é uma das raríssimas estátuas da Justiça, no mundo, que não tem os olhos vendados — mas poucos sequer a vêem.
Na rua General Câmara (rua da Ladeira), na esquina com a rua dos Andradas (rua da Praia), um prédio em estilo art noveaux resiste, intacto, ao tempo. Sua porta, altamente ornamentada, sobrevive a consecutivas camadas de pintura com a mesma beleza que tinha quando foi inicialmente esculpida.
Exemplos como esse se multiplicam, em locais como a Praça Senador Florêncio (Praça da Alfândega), onde o Banco Safra ocupa um conjunto arquitetônico formado, antigamente, por uma farmácia e um cinema, e o Museu de Artes do Rio Grande do Sul e o prédio do Correio (correio velho, visto que há um correio novo logo atrás) formam um dos mais conhecidos cartões postais da cidade.
O próprio nome das ruas, praças e prédios se constitui em uma história à parte. O Centro é o lugar onde as denominações originais das principais ruas e praças se mantêm intactas, graças ao uso popular. A Rua da Praia, a mais central, é, na verdade, a Rua dos Andradas.
E é no Centro que está "A Paineira", assim denominada e aceita por todos os habitantes em uma cidade em que há milhares de paineiras, e que é um ponto de referência da rua Sete de Setembro.
Por outro lado, é no centro que se encontram alguns dos principais locais de irradiação cultural da cidade. Basta lembrar que ali estão o Museu Júlio de Castilhos, a Casa de Cultura Mário Quintana, a Usina do Gasômetro, a Biblioteca Pública, o Museu de Artes do Rio Grande do Sul e o Museu da Companhia Estadual de Energia Elétrica.
A cidade de Porto Alegre foi a única do Brasil a utiliza bondes de dois andares, apelidados de "Imperiais", em 1908. Eles serviram durante poucos anos, pois não tiveram boa aceitação. A empresa que explorava o serviço na época era a Companhia Força e Luz Porto-Alegrense, formada pela fusão das duas empresas anteriormente existentes, a Companhia de Carris de Ferro Porto-Alegrense e a Companhia de Carris Urbanos de Porto Alegre.
Porto Alegre foi sede, em 1963, da III Universíade de Verão (Jogos Mundiais Universitários), o 2º maior evento esportivo olímpico do mundo na época, apenas atrás das Olimpíadas. Aconteceu de 30 de agosto a 08 de setembro. Os Jogos estão vinculado à FISU (Federation International du Sport Universitaire) e realizam-se a cada dois anos desde 1959. O evento modificou a cidade cujas competições mobilizaram grande número de pessoas que acompanharam as atividades de forma bastante participativa. A cerimônia de Inauguração ocorreu no estádio Olímpico do Grêmio Foot Ball Porto-Alegrense, contou com um coral de 6 mil vozes, que iniciou com o hino oficial da U-63, “Gaudeamus Igitur”. Houve o desfile das nações participantes e o campeão olímpico Ademar Ferreira da Silva acendeu a pira simbólica da U-63 sob uma salva de 32 tiros de canhão. As provas aconteceram em diversos locais da cidade que, nesses dias viveu o maior evento esportivo aqui realizado. Foi construída uma vila olímpica, hoje um bairro da cidade, com dezenas de prédios e mais de 450 apartamentos. Também foi construído um Ginásio de Esportes especialmente para o evento, o atual Ginásio da Brigada Militar. Mais de 1.000 atletas, de 27 países participaram do evento.
Material Gráfico - Universíade 1963
Fonte: UFRGS

Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, conquista Certificação pela Joint Commission International (JCI). Somente outros 5 obtém a mesma certificação no Brasil.
Porto Alegre é uma cidade com clima sub-tropical. Faz temperaturas baixas no inverno - próximas de 0ºC - e muito altas no verão - acima de 35ºC. Mas somente uma única vez nevou na cidade. Foi no dia 24 de agosto de 1984. Notícia em todos os jornais do país, entrou para a história como a primeira nevasca da metrópole do Sul.
A primeira lista telefônica de Porto Alegre foi publicada na segunda página do Jornal "A Federação", no dia 16 de setembro de 1886. Ela trazia apenas o nome dos 72 donos de telefone da cidade.
Porto Alegre é um dos MAIORES centros médicos do Brasil possuindo diversos hospitais referência no país e na América Latina, entre eles o Hospital Moinhos de Vento
A Pepsi Cola iniciou suas atividades no Brasil na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul no dia 03 de março de 1953, quando foi inaugurada a primeira fábrica.
Foi em Porto Alegre a criação da primeira ONG para proteção do meio ambiente no Brasil. A AGAPAN - Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural. Em 1971 !!!

Curiosidades:
*Quando Porto Alegre surgiu, qual a Religião dominante? E hoje?
A religião dominante era a católica, por causa dos açorianos. Hoje, as mais conhecidas são:
Cristianismo, Judaísmo e Candomblé.

*Quais foram os primeiros meios de transportes coletivos usados em Porto Alegre, antigamente?
Os bondes, que eram puxados por animais (burro ou cavalos).
Os navios, que transportavam os imigrantes.

*A Bandeira do Município de Porto Alegre foi criada em 12 de julho de 1974 no governo do Prefeito Telmo Thompson Flores, através da lei número 3893.

*A primeira igreja de Porto Alegre foi construída em 1779, a Igreja Matriz de Nossa Senhora Madre de Deus. Se não tivesse sido demolida seria hoje a igreja mais antiga. Assim, a Igreja mais antiga passou a ser a Igreja Nossa Senhora das Dores, construída em 1807.

*O bairro mais antigo da cidade é o Medianeira, criado no ano de 1957. E o mais novo, Jardim Europa.

**A paixão do colecionador de automóveis antigos Dick Shappy é o Cadillac. Por conta das dezenas de modelos que ele restaurou, ganhou a admiração de aficcionados como o apresentador de televisão Jay Leno. Mas, sempre em busca de desafios, Dick reconheceu, na na cidade de West Warwick, em Rhode Island (EUA), um bonde Osgood Bradley de 1911, que acreditava-se extinto. Uma descoberta incrível: a decadente lanchonete, que funcionava há 50 anos, era um bonde de passado glorioso. A restauração trouxe de volta a beleza de sua clássica estrutura.

**A fábrica Osgood Bradley localizava-se em Worcester, Massachussets (EUA). Desde 1833, construía bondes elétricos e locomotivas. Em 1930, foi absorvida pela Pullman-Standard, que fecharia a divisão em 1958. Na época em que a Carris era administrada pela empresa norte-americana Bond & Share, a companhia importou 45 veículos fabricados pela Osgood, todos usados. O primeiro lote, com 20 bondes que substituiriam os antigos gaiolas ingleses, veio para Porto Alegre em 1934, oriundo da Richmond Railways de Staten Island, Nova York. O segundo lote, com 25 carros, desembarcou na capital gaúcha em 1946, proveniente da Worcester Street Railways, linhas de bonde que ligavam Boston a Worcester. Foram os últimos bondes comprados pela Carris, que deixaria de operar este meio de transporte em março de 1970. Há dois destes modelos em Porto Alegre no Batalhão da Polícia de Trânsito (Rua Prof. Freitas e Castro esquina com Avenida João Pessoa). Um deles serve como local para atendimento de ocorrências e outro como arquivo de documentos. A descoberta do restaurador Dick Shappy equivaleria em Porto Alegre, por exemplo, a alguém encontrar um dos elétricos ingleses importados pela Carris, que acredita-se extintos. Alguns modelos, adquiridos em 1909 da United Electric, seriam mais tarde modificados nas oficinas da companhia - fechados e pintados de amarelo - e circulariam durante seis décadas.

**Um dos mais renomados escritores gaúchos, Moacyr Scliar define o bonde não como um meio de transporte, mas como um estilo de vida. Ao recordar, escreveu dizendo que os leitores deveriam ouvir o suspiro que saíra do peito dele. Não por acaso, Scliar foi jurado do concurso de crônicas sobre bondes que a Carris promoveu em 2002 para selecionar os relatos que integraram o livro em comemoração aos 130 anos da companhia.

**A única linha a circular de madrugada em Porto Alegre era o Bonde Duque, que fazia a alegria dos boêmios mas provocava certo terror na população insone que escutava o ranger metálico de suas rodas. Era chamado de "bonde fantasma".

**Considerado pelo pesquisador Herdy Verdana um dos momentos mais importantes da música popular brasileira em Porto Alegre, o Jazz Carris animou bailes e festas na cidade durante os alegres Anos 30. Na época comandada pelos norte-americanos - o grupo Bond & Share controlou a Carris desde 1929 a 1954 -, a empresa começava a investir em lazer e cultura para os cerca de 500 funcionários. E o ritmo do jazz - muito em voga então - tinha tudo a ver com o que o diretor Mister Millender pretendia: além de entreter os trabalhadores, difundia a cultura dos Estados Unidos. Millender também mandou construir um teatro e um cinema na Carris. Quando quis formar a banda de jazz, Millender exigiu que todos os músicos fossem funcionários da empresa. Fez uma pesquisa interna para localizá-los entre os motorneiros, condutores e demais empregados. Descobriu daí que não contava com os chamados “músicos de frente”, de inquestionável qualidade, o que inviabilizaria seu projeto. Com sinceridade, o encarregado de organizar o grupo lhe disse que ou ele contratava músicos profissionais ou a banda ia ser um baita fiasco. Millender autorizou a contratação, mas manteve a exigência de que eles viessem a trabalhar na Carris. E foi o que aconteceu: saxofonistas, pianistas, cantores e bateristas viraram motorneiros, cobradores e fiscais. Não só o gaiteiro Pedro Raymundo, que estava começando sua carreira profissional, mas outros brilhantes músicos aportaram na Carris, como o saxofonista Marino dos Santos, o baterista Luiz Americano, o violinista Ulisses Bernardi e o pianista Hans Guampa. Como ninguém sabia pronunciar direito o sobrenome do alemão Hans, ele acabou ganhando a alcunha de Guampa, que era a palavra portuguesa cuja sonoridade mais se assemelhava.

**Em 1992, quando a Prefeitura de Porto Alegre deu início ao projeto Poemas nos Ônibus, da Secretaria Municipal de Cultura, os veículos da Carris passaram a circular ostentando em suas janelas as palavras do maior poeta do Rio Grande do Sul e um dos mais venerados do Brasil. "Todos os ônibus deveriam passar pela casa de nossas bem-amadas", escreveu Quintana, especialmente para o olhar dos passageiros. O autor de Rua dos Cataventos, em cujo quarto no Hotel Majestic guardava a réplica em miniatura de um bonde da Carris, também colaborou com outra obra para o projeto, rememorando o meio de transporte que mais saudades deixou no imaginário dos porto-alegrenses:

"Acabaram-se os bondes amarelos... A Frase me saiu em decassílabo, viste? E O metro clássico já faz adivinhar um soneto. Ficou neste verso único.
E deixo o bonde depositado em meu ferro-velho sentimental. Aqui. Parado.
Sonhando. Quem sabe se um dia..."

**Grandes nomes da literatura do Rio Grande do Sul colocaram os bondes de Porto Alegre em seus contos e romances. Em Clarissa, de Érico Veríssimo, um dos personagens perdeu as duas pernas num acidente de bonde e sonha em marchar com exércitos. A tragédia envolvendo o veículo também está presente em “Na curva do arco-irís”, de Cyro Martins: um homem mata a mulher e o amante em um bonde em movimento. Mas talvez seja Dyonélio Machado o que mais aproveitou as potencialidades literárias dos amarelinhos da Carris. Em “O louco do Cati”, o protagonista inicia sua epopéia onírica embarcando em um bonde, vai até o fim de linha, tenta trocar uma nota antiga em um bar e acaba sendo levado por um grupo de jovens a uma excursão feita de caminhão pelo litoral. No seu romance mais famoso, “Os ratos”, as desventuras do personagem principal, que sofre com a falta de dinheiro para comprar leite, têm no bonde um cenário importante.

**O primeiro ônibus começou a circular em Porto Alegre em 1926, um Chevrolet Pavão comprado da firma Barcellos & Cia por Amador dos Santos Fernandes e Manoel Ramirez. A Carris passou a oferecer o serviço de transporte por ônibus, modelo White, em 1928 para localidades aonde as linhas de bonde não chegavam. Somente em 1963 os ônibus superariam os bondes em volume de pessoas transportadas. Naquele ano, 105 bondes da Carris transportaram 46% dos usuários e 800 ônibus e micro-ônibus de outras empresas conduziram 54% do total de passageiros. Em 1974, quatro anos após a extinção dos bondes, 66,5% das viagens em Porto Alegre eram feitas por ônibus, 27,5% por automóveis particulares, 1,56% por táxis e 1,3% a pé.

**O recordista de longevidade na empresa é o ex-motorneiro Antônio Souza Costa, que em 2007 completa 60 anos de Carris. Ele trabalha na sala de leitura da companhia. Começou, em 1947, guiando bondes. Passou por todas as linhas e depois foi para os setores administrativos. Quando atuava no Departamento Pessoal, percebeu que as digitais dos funcionários mais inteligentes seguiam o mesmo padrão. Daí criou um sistema que batizou de datilopsicologia, que vem a ser a avaliação do QI por meio das impressões digitais. Lançou um livro com o mesmo nome do método e já viajou para o Egito e Estados Unidos para demonstrar o sistema.

**Antes de enveredar pela carreira artística, Lupicínio Rodrigues trabalhou como aprendiz de mecânico de bondes na Carris, em 1930. Seu pai queria que o garoto aprendesse um ofício e deixasse de lado a precoce inclinação para a boemia. Mas, para o bem do samba, a Carris perdeu um mecânico e a Música Popular Brasileira ganhou um de seus melhores compositores.

** Além de Lupicínio Rodrigues, outro grande artista que passou pela Carris foi o gaiteiro Pedro Raymundo, autor da célebre canção Adeus Mariana. O catarinense, que se tornaria o primeiro músico a fazer sucesso nacional pilchado de gaúcho, atuou como condutor de bonde na companhia, entre 1929 e 1933.

** Na época dos bondes puxados a mula (1872-1908), a Carris mantinha, ao pé das ladeiras, parelhas sobressalentes de mulas, que eram colocadas junto às outras para facilitar a subida. Com pena dos animais, muitos passageiros desciam e até ajudavam a empurrar o veículo.

** Uma dúvida comum é por que as primeiras empresas de transporte coletivo se chamavam Carris. Esta expressão, utilizada no começo do século para denominar os trilhos da malha viária, atualmente é pouco usual.

** Precursora das lotações e, pode-se dizer, “avó” do Linha Turismo, a Carris-Tur funcionou de 1974 a 1979. Composta por 10 ônibus com ar-condicionado, som ambiental e serviço de rodomoças, que ofereciam jornais e cafezinho, a linha circulava nos bairros Independência, Auxiliadora e Chácara das Pedras.

** A Carris já teve um estádio e um time de futebol. Foi no Estádio da Timbaúva, construído no bairro Santa Cecília em 1934, que dois craques do Grêmio Esportivo Força e Luz despontaram: o ponta-direita Dorval, vendido depois para o Santos de Pelé onde se sagraria bicampeão do mundo em 1962 e 1963, e Airton Ferreira da Silva, zagueiro que o Grêmio comprou em 1954 por 50 mil cruzeiros e 10 degraus de arquibancadas. Isso mesmo: um pavilhão de arquibancada do antigo estádio da Baixada.
Um dos melhores jogadores do Grêmio de todos os tempos, o zagueiro carregou para sempre no apelido de Airton Pavilhão a marca do insólito negócio.

** Para as crianças de épocas passadas, ser vizinho da Carris quando a sede localizava-se na Cidade Baixa representava um aprendizado importante, conforme relatos dos hoje vovôs. Falar inglês era estimulado pela camaradagem com funcionários norte-americanos. Saber dirigir bondes também não era difícil, uma vez que muitos garotos assistiam às instruções na Escola dos Motorneiros. Nos galpões da companhia, muitos descobriram um truque para eliminar ratos: bastava colocar um pedaço de queijo nos trilhos e eletrocutar o bicho.

** Por falar em travessuras da infância, ficou famoso um caso de “roubo” de um bonde da linha Petrópolis, numa tarde de domingo de férias de verão em Porto Alegre, anos 60. O relato está no blog de Eloy Figueiredo: - Antes de entrar na matinê do cine Ritz, o guri observou que o motorneiro e o cobrador foram tomar uma cerveja no bar na frente do fim da linha, que ficava exatamente na frente do cinema, esperando a hora de voltar para o Centro.
Subiram alguns passageiros: casais com crianças pequenas que iam esperar sentados, no interior do bonde, para passear na Redenção ou no Centro. Quando ele viu aquilo, o bonde abandonado e chamando por ele, não resistiu. Subiu e moveu a alavanca como havia aprendido olhando o motorneiro dirigir. Quanto mais ele movia a alavanca para frente, o bonde corria mais descendo a Avenida Protásio Alves à toda velocidade, com funcionários da Carris correndo, gritando e fazendo gestos desesperados com seus blazers na mão como se fossem bandeiras desfraldadas. Só conseguiram pará-lo na Osvaldo Aranha, no Bom Fim, depois que o cobrador e o motorneiro se apropriaram de um automóvel que parou para saber do ocorrido. - Em nome da lei, siga aquele bonde! – disseram eles. Ele foi preso e tornou-se notícia dos jornais, no qual lia-se na manchete “Guri rouba bonde”.

** Nos bondes, não havia roleta. Durante o percurso, os cobradores caminhavam sem parar de um lado a outro do veículo pegando o dinheiro dos passageiros. Em horários de pico, com o bonde cheio, muitos diziam que já tinham pago sua passagem, o que podia gerar curtos e barulhentos bate-bocas. Em seu blog, Milton Ribeiro conta a maneira mais emocionante de não desembolsar o dinheiro da passagem: “Digo por experiência própria que a melhor maneira de não pagar era andar como eu gostava, lá na porta dependurado e sentindo o vento bater no rosto, a uma velocidade máxima de uns 40 ou 50 Km/h, calculo eu. Era o momento de maior emoção, quando podia ficar com um dos braços e uma das pernas no ar. Curiosamente, ninguém achava aquilo perigoso, só umas velhas chatas perguntavam se eu e outros meninos queríamos morrer.”

**A integração tarifária entre a Trensurb e os ônibus tem um antecedente histórico na Carris. Em 1930, a companhia ofereceu um serviço combinado entre os bondes da linha Independência e um dos novos auto-ônibus que a empresa acabara de adquirir. O auto-ônibus trafegava da esquina da Rua Cel. Jardim (onde existia a linha de bondes) até a Rua Silva Jardim, onde havia a Igreja Auxiliadora, e depois retornava pelo mesmo itinerário, com horário das seis e meia da manhã às nove e meia da noite. A companhia, para uso nesse transporte conjugado, emitiu um cupom de formato especial, que tanto servia no bonde como no ônibus.

**O ensino de Psicologia foi introduzido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1943, na Faculdade de Filosofia. Terceiro professor da disciplina e primeiro psicólogo do RS, Nilo Maciel usou seus conhecimentos para implantar o serviço psicotécnico como auxiliar na seleção e formação de pessoal no Departamento Autônomo de Estradas e Rodagens (Daer), na Varig, Brigada Militar, Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), Aços Finos Piratini e na Carris, onde trabalhou de 1953 a 1956.

**Antes de trabalhar na Carris, Maria Ivete Gallas participou ativamente da história do futebol e futsal femininos do Brasil como atleta, técnica e dirigente. Começou na zaga do Inter, em 1985; jogou futebol de campo no Grêmio, conquistou vários títulos no futsal pelo Funil, de Alvorada; foi da Seleção Gaúcha de futsal; atuou como jogadora da equipe do Saad, de São Caetano (SP), base da Seleção Brasileira. Neste clube, comandou, como técnica, o time de futsal; foi auxiliar do técnico Zé Duarte no São Paulo e na Seleção feminina de futebol, em 1997; treinou, em 2000, o time feminino de futebol do Grêmio. Depois, resolveu dar uma guinada na vida: fez concurso e foi aprovada para o cargo de motorista de ônibus da Carris. Dirigia ônibus da linha T3 quando dirigentes esportivos do Irã entraram em contato. Queriam buscar no Brasil alguém para revolucionar o futsal feminino do país e fazer uma grande campanha nos Jogos Islâmicos de 2005. Os treinos foram duros, cinco horas por dia, mas o resultado compensou. A equipe treinada pela gaúcha arrasou as adversárias na primeira fase - 32 X 1 Turquemenistão; 43 X 0 Inglaterra; 26 X 1 Iraque. Na final, bateu a Armênia por 3 a 0 e conquistou o título.

**O invejável currículo do árbitro gaúcho Carlos Eugênio Simon inclui duas Copas do Mundo, em 2002 Japão/Coréia do Sul e em 2006 na Alemanha. O que poucos sabem é que uma passagem como jornalista na Carris também integra as experiências do juiz de futebol. Paralelamente à carreira nos gramados, Simon trabalhou em diversas áreas desde jovem, quando deixou a região Oeste do RS rumo a Passo Fundo e Porto Alegre. Formou-se em Jornalismo em 1991 pela PUCRS e fez pós-graduação em Ciência do Esporte. Já no quadro de árbitros da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a formação levou-o a trabalhar como jornalista na Secretaria Municipal de Transportes (SMT). Em junho de 1996, foi para a Companhia Carris, onde seguiu na área da Comunicação na Assessoria da Diretoria, função que exerceu até abril de 1997, quando passou a integrar o seleto grupo de juízes da Fifa.

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